O jornalismo está em mudança: na tecnologia, no mercado, nos meios, nos formatos, nos modelos de negócio. Por isso é natural que o próprio papel dos jornalistas tenha que se renovar e se adaptar a esta inevitável realidade. Mas antes temos que perceber o que é e o que faz um jornalista. Jornalismo é a atividade profissional que consiste em lidar com notícias, dados factuais e divulgação de informações. Também define-se como a prática de coletar, redigir, editar e publicar informações sobre eventos atuais - uma atividade de Comunicação. A essência do Jornalismo, entretanto, é a seleção e organização das informações no produto final e consiste em captação e tratamento escrito, oral, visual ou gráfico, da informação em qualquer uma de suas formas e variedades.
Estamos vivendo hoje, aquilo que podemos definir como uma sociedade da informação e do conhecimento, na qual a informação e o conhecimento tem valor, mas não é o que acontece com o profissional que está por trás de todo este trabalho, pois a cada dia ele recebe um novo desafio em seu caminho profissional. A exemplo temos a recente decisão no mínimo equivocada e infeliz do Supremo Tribunal de Justiça, em retirar a obrigatoriedade do diploma, termo mínimo para que o profissional tenha uma formação sólida e consciência valorativa.
Mesmo sendo visto como um profissional capaz de transitar nesse novo universo e fazer com que ele se torne compreensível para a sociedade, hoje o papel do jornalista é muito mais importante no que se refere à estruturação de papéis na sociedade, do que jamais teve, pois, no século XX, o jornalismo teve papel importantíssimo para a consolidação da democracia nos principais países do mundo, pois as nações mais importantes tem hoje processos políticos democráticos estabilizados e é muito difícil imaginar que alguma dessas grandes democracias possa sofrer uma reversão.
Hoje, no entanto mesmo com as mudanças e a chegada nas redações da informática e as divisões do trabalho, o papel do jornalista não mudou muito, teve é que ser adaptado como normalmente iria acontecer com a adequação do profissional às novas tecnologias e a nova lógica do mercado. Essas mudanças fizeram com que o jornalista tenha que saber trabalhar para mais de um meio, seja polivalente, conheça diferentes linguagens, saiba trabalhar em equipe e até mesmo em outras funções. Trata-se de uma questão de sobrevivência profissional, pois se é fundamental ser especialista num meio, é essencial que se saiba adaptar a outros, com a nova reestruturação empresarial. Além disso, essa polivalência é muito útil neste período de convergência de meios: um jornalista com boa capacidade para fazer rádio poderá assumir a produção de um podcast num jornal, ou usar as suas qualidades como fotógrafo para ilustrar as notícias no site da estação.
O jornalista tem que procurar ser autônomo, isso não quer dizer promover anarquia nas redações, mas a independência editorial é necessária nesta altura em que se publica a notícia no imediato, através de breaking news no site ou através do Twitter, pois precisa-se de uma maior velocidade de reação. Os cortes no pessoal e as novas estruturas de trabalho, à distância, exemplo da nova divisão do trabalho, podem promover essa autonomia, que corresponde a mais um acréscimo de responsabilidade.
Outro ponto importante a se destacar é o envolvimento e relacionamento do jornalista com as modernas assessorias que vão muito além da divulgação do assessorado. È preciso que o jornalista esteja atento às mudanças para que assim possa desenvolver seu assessorado e o coloque em voga, pois a lógica empresarial da assessoria hoje é maximizar a visibilidade do cliente na mídia, de forma positiva. Para isso, o assessor deve procurar saber exatamente como funcionam as redações, com quem podem ou não falar e como desenvolver estratégias para chegar a esses profissionais. O mercado é volátil, e a agilidade e o consciente trabalho da assessoria é o que as empresas buscam para seus quadros profissionais. Para que ocorra a valorização notícia do assessorado e a assessoria conquiste espaço atualmente, é preciso que o jornalista saiba criar conteúdos, tenha uma atitude empreendedora e saiba destacar sua coletividade. Aqui entra o marketing pessoal e institucional da forma como o jornalista apresenta seu trabaho em redes sociais. A pró-atividade deve ser uma característica de todos os bons jornalistas, mas é essencial no mundo comunicacional de hoje.
É preciso também que o jornalista tenha consciência do impacto das novas tecnologias de informação e se prepare para as novas perspectivas de trabalho que irão passar pela adaptação do profissional aos novos meios de comunicação digital. Antes era uma rede social limitada por fatores geográficos, círculos sociais e econômicos, agora, online, a limitação está no número de contatos que se tem. Uma rede profissional bem montada aumenta as chances de reconhecimento do trabalho, facilita a obtenção de fontes e ajuda, pois agora é preciso saber um pouco de programação, ter conhecimentos técnicos em vídeo, áudio, fotografia, design, quer seja para desenvolver trabalhos multimídia para saber se comunicar sozinho ou num trabalho de equipe. O resultado final já não é necessariamente um texto, mas um pacote multimídia que é preciso saber como fazer ou explicar. Nesse contexto, ainda há espaço para novos tipos de jornalismo, baseados na utilização de base de dados e notícias antigas relacionadas com um determinado assunto, pois, faz parte do novo papel dos jornalistas selecionar, cruzar e usar outras fontes- mesmo da concorrência – de épocas diferentes, em simultâneo e no imediato para explicar a evolução ou o enquadramento de uma história. E a web está carregada de informações valiosas para quem a souber procurar e usar.
O jornalista deve ter consciência de que seu papel hoje é muito mais do que apenas portador da notícia, ele é a ponte entre os utilizadores, a redação e os sujeitos da notícia. Através da gestão dos comentários à notícia, recorrendo ao crowdsourcing, colaborando com os leitores e utilizando-se das novas tecnologias e espaços de trabalho, o jornalista valoriza a informação que publica. É preciso compreender que uma história não está terminada depois de publicada, há sempre mais dados que surgem que podem ajudar a melhorar a compreensão dos fatos. Por isso faz parte das novas funções do jornalista alimentar, recolher e filtrar o diálogo que agora existe com os utilizadores e incorporá-lo no resultado final.
Afinal, o jornalista tem que ser autêntico, pois no meio de toda a contribuição dada pelos utilizadores cabe ao jornalista validar o que tem valor informativo ou não. Verificar fatos continua a ser parte do trabalho, mas assume agora uma importância maior devido ao impacto imediato que uma informação pode ter e que as novas tecnologias propõem, pois a informação espalha-se mais rápido e para mais longe. O papel do jornalista é fundamental na orientação das massas na busca de informação e apesar das novas tecnologias, sua criação continuará a existir.
Contudo, temos que mesmo com as mudanças e os paradoxos entre as novas funções do jornalista é fundamental valorizar este profissional que à frente do jornalismo não deixa de retratar a profissão especializada no tratamento, criação e gestão de informação; no trabalho para a sociedade e na garantia da liberdade de expressão e informação. A partir daí, o jornalista e o jornalismo tem novos desafios. O desafio agora é o de mudar o paradigma do desenvolvimento, e encará-lo como processo equilibrado, que pensa o presente e o futuro como artes da mesma equação. O futuro será consequência do que a gente faz no presente. O jornalista tem hoje o grande desafio, que é olhar para o mundo de forma muito mais ampla, tendo não apenas o olhar no presente, mas também na dimensão da perenidade.
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